Por Marcelo Visintainer Lopes Instrutor de Vela Escola de Vela Oceano
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Escola de Vela Oceano Floripa - foto @rovieart |
Muita gente acha que para velejar precisa ter talento, mas isto não é
verdade.
Para ser um bom velejador você precisa começar a praticar com
regularidade.
Quanto mais você praticar, mais rápido você
terá condições técnicas para realizar as manobras de um veleiro!
O detalhe está justamente na coragem, pois de
nada adianta aprender a velejar e faltar coragem para tocar seu próprio barco!
Na semana passada apresentei no nosso perfil do Instagram o conteúdo das 70 horas do curso
de iniciação à vela oceânica e muita gente me questionou sobre o volume de
informação.
Aprender aquilo tudo é realmente
necessário?
Ali está o básico do básico para que
uma pessoa possa velejar com segurança, mas isto não quer dizer que você vai se
descolar ao ponto de conseguir velejar sozinho.
Existe uma diferença entre apresentar
um bom rendimento durante o curso e comandar seu próprio barco.
De nada adianta dominar os conteúdos em
aula se faltar coragem para soltar o cabo da poita quando você estiver sozinho.
Então “coragem” é a palavra-chave?
Se você tiver coragem você vai chegar
muito longe – bem mais longe do que possa imaginar.
Coragem pode ser interpretada como “ausência
de medo”, mas aqui não é o caso!
Coragem subentende postura, prudência,
preparo e confiança.
Precisamos de coragem até para
cancelar uma velejada em família por causa de uma previsão ruim. Neste caso sua
coragem estará ligada à prudência.
Eu poderia citar inúmeros exemplos de
coragem, mas eu acredito que me fiz claro até aqui...
Para melhorar sua autoconfiança e,
consequentemente sua coragem, eu desenvolvo métodos que ajudam você a soltar da
poita em um curto espaço de tempo.
Siga este passo a passo e seja feliz:
1.Condições meteorológicas. Avalie o
vento no modo “rajada”. Não dê muita atenção para a velocidade do vento e sim
para a velocidade prevista para as rajadas.
Nas primeiras saídas opte pelos ventos
com rajadas máximas entre 6 e 10 nós. Ventos assim permitem que você erre mais.
A consequência é muito pequena...
2. Leve comida e água potável, mesmo
que a previsão seja de uma velejada curta. Se acostume a deixar comida e água
estocada no barco, pois imprevistos poderão ocorrer.
3. Abastecimento de combustível. Você
deve descobrir o consumo/hora do seu motor e fazer uma previsão de combustível
reserva (+1/3).
4. Encha os tanques de água.
5.Confira os obrigatórios da marinha.
6.Faca afiada, ferramentas básicas,
cabos e peças básicas de reserva não podem faltar a bordo.
7. Teste o motor assim que embarcar.
Não solte da poita se ele não estiver 100%.
Daí o velejador raiz fala: o barco é à
vela e o motor é para os fracos! Vai nessa filho...
Uma coisa é você aprender a velejar e
não depender do motor para muitas coisas e a outra é negligenciar a sua
principal ferramenta de segurança.
8.Prepare o barco para velejar e escolha
o tamanho das velas para o vento previsto.
9.Deixe a âncora pronta para entrar em
ação (procedimento básico de emergência).
10.Deixe a genoa 100% pronta para
abrir ou içar (procedimento básico de emergência).
Tanto a genoa como a âncora devem
estar prontas para entrar em ação no caso de uma pane de motor (tanto na
entrada como na saída da marina). Primeiro abra a genoa e, se por alguma razão não
conseguir, jogue a âncora...
11.Planeje o destino e estude a carta
náutica verificando se existe água suficiente em baixo da quilha para você
alcançar aquele destino. Pedras, bancos de areia, naufrágios, boias... O
caminho está limpo?
12.Planeje a saída da poita ou a
desatracação do píer. Avalie a direção do vento e entenda para que lado o barco
será jogado quando você soltar os cabos. A partir daí defina qual (quais) o (os)
cabo (os) soltar primeiro.
13. Solte da poita e espere a proa se
afastar dela (2 a 3m já é o suficiente) para depois dar motor a vante. Se não
tiver vento suficiente, engrene a ré (sem acelerar) e espere afastar, para depois
engrenar a vante.
14. Definição da quantidade de velas
(não do tamanho, pois você já fez isto lá no item 08). Só de genoa, só com a vela
grande ou com as duas velas? Se optar em velejar com as duas velas juntas, suba
primeiro a vela grande e em seguida abra a genoa (nesta ordem). Na hora de
guardar é ao contrário (primeiro enrole a genoa e depois baixe a vela grande).
As manobras de subir, abrir, fechar e baixar velas deverão ser feitas lá fora
da marina em local com espaço suficiente para aproar o barco ao vento (somente
para subir baixar a vela grande).
15. Chegando na marina. Prepare o
dispositivo para pegar a poita (crock ou cabo). Identifique a direção do vento
e faça a aproximação da poita aproado ao vento e em marcha lenta. Coloque a
proa em direção à poita e coloque ponto morto assim que perceber que a inércia
é suficiente para chegar na boia. Se faltar velocidade engrene novamente a
vante. É melhor faltar velocidade do que sobrar!
Pegue a poita e amarre-a imediatamente
nos cunhos de amarração. Pronto você já está em casa!
Mesmo com tudo isto muitos erros
ocorrerão nas suas primeiras velejadas solo.
Ansiedade, pressa, dor no estômago e
gastrite são sintomas normais.
Este é o caminho “normal” e errar faz
parte do processo de aprendizado.
Daqui para a frente você só precisará treinar
e coordenar todos os movimentos, lembrando sempre das dicas acima.
Ao mesmo tempo que você vai praticando
e melhorando a técnica seu cérebro vai desbloqueando e permitindo que você
consiga realizar outras atividades sem atrapalhar a anterior.
Na semana que vamos subir um nível!
Bons ventos!
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